terça-feira, 22 de março de 2011

Uma Velha Lembraça

Uma dor forte apertou-me o peito hoje. Ela veio do nada, silenciosa. Começou a crescer de forma angustiante e, sem avisar, tomou meu corpo todo. As vezes eu penso que superei ter perdido Laura, mas a perda nunca foi superada. Acho até que nunca será, pois sempre haverá o vazio, sempre me culparei por não ter dito o último "Eu te amo!". Sim, eu sei que eu não posso me culpar pelo passado. Afinal, o que passou, passou? Mas, e sobre as tantas vezes que esqueci de dizer o que eu realmente sentia? Perdi pessoas importantes sem antes dizer uma palavra de carinho. Sem pedir perdão, pisar na minha vaidade, esmagar meu orgulho, esquecer o trabalho, achar um tempo qualquer e mostrar meu verdadeiro querer, a minha presença.

Estes dias frios parecem ser dias calmos e agradáveis, dias em que qualquer agasalho parece poder aquecer meu corpo. Eles não me aquecem. Escondem em si uma falsa promessa de calor e conforto. São dias em que as horas insistem em não passar, nunca se sabe se é manhã ou tarde. Abro a janela da sala de estar e vejo um céu cinza, morto, sem cores, que muito me entristece. Fico na esperança de uma brecha de sol aparecer, do céu azul brilhar.

Vejo as horas no grande relógio de parede da sala-de-estar e me perco no tempo encarando a porta da frente, que dá acesso a varada da casa. Fico esperando a porta abrir, esperando Laura chegar em casa, insistindo em olhar a porta que nunca abre. Sento na varanda da frente onde o vento frio é intenso. Duas poltronas, dois lugares, apenas um ocupado. A falta aperta a todo momento. Como lembrar dela e não sorrir? Como não lembrar da pessoa amada? Pequenas coisas, as mais bobas, ela está lá.

Com os olhos fechados, só me vem à mente uma cena antiga, porém muito nítida: Numa praia, o tempo estava nublado. Laura, de biquíni preto e envolta por uma manta azul, corre com medo das minhas tentativas de cobri-la de água, mostra o que reflete em seu olhar e sorriso: paz de espírito, conforto interior, um amor que a preenche o corpo todo. Eu, muito bobo, com brincadeiras de criança, corro atrás dela e a alcanço em seguida. Coloco-a em meus ombros, ela ri alto, pede para que eu a coloque no chão, dá tapas em minhas costas. Com todo cuidado de quem carrega diamantes, coloco-a na beira do mar, vou junto com ela, meus braços envolvem-na o corpo todo, sinto o frio da água do mar molhando minha pele. De frente um para o outro, salgados e nos olhando com tremenda paixão, temos neste momento uma única certeza: Nós nos amamos.

Despertar de um sonho bom, abrir os olhos, não é fácil. Fico me perguntando se a qualquer momento vou acordar deste pesadelo. Estou sonhando quando fecho os olhos ou estou tendo um pesadelo quando abro eles? Dias frios em que o calor está ausente, em que a dúvida me consome, a ausência me angustia, o peito dói. Uma dor que eu tenho certeza, remédio nenhum poderá curar.

2 comentários:

  1. É, caro amigo... Essas dores nunca passam. Dor pela separação, pela falta. Concomitante a dor está a saudade por um dia ter vivido, sentido... A todos nós resta a esperança de um dia além desta vida, reencontrar quem nos falta. A esperança, o sonho é isso que nos move a cada dia.

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  2. "Estes dias frios parecem ser dias calmos e agradáveis, dias em que qualquer agasalho parece poder aquecer meu corpo. Eles não me aquecem. Escondem em si uma falsa promessa de calor e conforto."

    Mas que texto foda!
    Perdão pela expressão, mas foi a única que achei.

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