sexta-feira, 4 de março de 2011

Laura

Conheci Laura de forma inusitada, não tinha como não me apaixonar. Eu estava indo para um bar perto da praça dos Patos. Era uma tarde cinza de sábado, daquelas um pouco mórbidas que o vento sopra devagar e com preguiça. Estava quase anoitecendo e o frio era intenso, há muito que o sol não dava as caras. Eu passei pela praça andando distraído em meus pensamentos, vi algumas moças sentadas em alguns bancos perto da ponte que dá acesso ao outro lado da praça dos Patos. Elas riam e se distraiam. Provavelmente comentando algo sobre os rapazes que ficavam à observá-las.

Entrei no bar da Tina. Um barzinho famoso e muito bem frequentado. Peguei uma cerveja e sentei num lugar estratégico. Olhei o bar todo por vezes, mulher nenhuma me atraia. Estranho, não tinha reparado na moça que me serviu a cerveja. Não a conhecia, mas isso não era motivo para ser fria e impaciente. Fiquei sem entender, pensei alguns minutos nela. Bem, talvez tenha sido pela quantidade de homens que ficava a importunando à beira do balcão com piadinhas e cantadas sem promessa de um amanhã. Isso irrita qualquer uma.

Minha cerveja acabou, as mesas estavam cheias demais e os poucos garçons não davam conta de tanto pedido. Algumas pessoas reclamavam, acho que tudo tinha acabado. Voltei ao balcão imaginando como seria encarar de novo aquela pessoa arrogante. Alguns homens se aproximavam a todo momento perguntando pelas bebidas e tentando alguma chance com ela. Escutei de longe, eram as mesmas conversas sempre: "Vamos sair daqui depois do seu expediente?".

Encostei no balcão, ela me olhou com indiferença, um olhar repugnante. " -Mais uma cerveja, por favor.", disse à ela com tom firme. " -Acabou!", respondeu ela. " -Tá, então uma dose dupla de whisky com água de côco." mais impaciente ainda. Ela respondeu com um pouco de intolerância: " -Não tem!", " -Tem água?", "Não!". "Nem da torneira?", " -Não!!!", dei um daqueles sorrisos de canto e boca e tornei a perguntar: " -E seu telefone? Tem?". Neste momento ela parou, aquilo quebrou tudo dentro de si. O escuto anti-cafajestes havia sido rompido. Não era mais uma conversa fiada de bêbado querendo sexo fácil. Era algo real, algo sincero. Ficou me encarando com seus olhos cor de mel grandes e arregalados, os lábios finos entreabertos, o pescoço levemente inclinado e as mãos soltas.

Seu patrão, vendo a cena de longe, veio em direção e perguntou: "Laura, algum problema?", "Não, está tudo bem." respondeu ainda sem graça e em seguida perguntou-me: "Você está falando sério?", e eu respondi: " -Não, não estou. Eu quero uma cerveja, tem?", acho que a irritei mais ainda. Ela ficou sem acreditar, logo quando eu consegui quebrar o escudo protetor, recuei sem pensar. Na verdade, eu nem sabia o que estava fazendo, as palavras saíram involuntariamente. Acho que me apaixonei sem saber, nem perceber. Aquela atração era involuntária. Anos mais tarde Laura me contou que naquele dia, ela teve vontade de pular o balcão e me matar.

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