domingo, 27 de fevereiro de 2011

O Início

Hoje eu acordei perto das 5 da manhã. Há alguns dias meu sono surpreende o meu relógio-despertador. Andei pela casa vazia até a varanda da frente. Vi a escuridão tranquila de minha rua. Respirei fundo. Voltei pela sala examinando a luz que aos poucos começava a refletir. Nada além dos meus passos curtos e cautelosos. Silêncio! Alguns passos vazios do lado de fora, alguns movimentos alheios à mim.

Entrei no meu escritório de paredes brancas e prateleiras empoeiradas. Precisando dar uma boa faxina. A máquina de escrever já não me serve mais, troquei há pouco tempo por este computador. Os meus cadernos de páginas amareladas começam a desfigurar e se perder no morfo. Sentei-me e olhei atentamente à minha mesa. Pouco organizada; folhas de rascunho à direita, mais na frente um porta-retrato, daqueles antigos, com uma foto de Laura, uma pequena luminária e o computador.

Senti uma necessidade estranha de escrever. Desde à morte de Laura, tomei-me de uma tristeza e resolvi que nunca mais tornaria a tecer minhas palavras em lugar algum. Esbocei um sorriso quando veio à mente uma velha frase que Laura costumava me dizer: "Miguel, nunca diga nunca!". Confesso que a dor ainda é forte, mesmo depois de seis meses. Não quero falar muito sobre isso agora. Ainda dói. Cada domingo é pior do que o outro, hoje não está sendo diferente.