domingo, 20 de março de 2011

O Primeiro Encontro

As várias visitas ao bar onde Laura trabalhava nos renderam boas conversas. Na medida do possível, apesar de eu ter receio por estar atrapalhando-a e de nossas conversas serem sempre interrompidas por clientes apressados ou pelo patrão irritado. Decidi que pelos olhares que trocávamos, ela não poderia recusar um convite despretensioso. Chamei-a então para ir à um parque que tinha acabado de chegar à cidade e que todos estavam falando bem.

Era a primeira sexta-feira de maio, os dias ainda eram quentes, já as noites sempre se envolviam por uma brisa fria e agradável. Marcamos de nos encontrar às 7 no parque perto da roda-gigante. Cheguei cedo, estava ansioso. Eu olhava em todas as direções insistindo em encontrá-la no meio daquela multidão. Quando à vi, de botas marrom, calça e blusa pretas, colar e brincos de ouro, meu coração disparou de forma descontrolada, não sei se pelos nossos olhares terem se cruzados no meio de tanta gente ou se pela incerteza do porvir.

Laura chegou perto de mim e com um olhar singelo disse: "-É uma linda noite, não?" tudo se abafou ao redor de nós dois, turvou-se diante dos olhos dela, eu não conseguia ouvir mais nada, apenas olhava para ela. Esbocei o meu melhor sorriso e a cumprimentei: "-Sim, tão bela quando você.". Ela sorriu ainda mais e respondeu: "-Você e sua habilidade de me deixar sem graça.".

Caminhamos pelo parque conversando, não me recordo do que falávamos, ou melhor, do que Laura falava, eu apenas concordava balançando a cabeça, fixando os olhos na boca dela. Laura estava deslumbrante. Paramos perto do pula-pula, encostamos na grade de proteção observando as crianças dentro, fiquei de frente para Laura e puxei-a para perto de mim pelo braço: "-Olha, eu tenho que confessar que não sou bom com palavras, mas eu estou muito encantado por você.", ela olhou-me desconfiada e disse: "Miguel, eu conheço de longe a tua fama. Essas palavras baratas não me compram.".

Droga, quem havia dito maldades ao meu respeito? Tentei disfarçar, então disse em tom um pouco irônico, um pouco sarcástico que ela poderia acreditar em qualquer boato e pensar o que quisesse de mim, mas isto não mudaria quem realmente eu sou. Eu sabia que ela não se importava com isto, caso contrário não teria aparecido. Ela olhava para os meus lábios e olhos, não resisti: puxei-a com força e a beijei.

Durante o nosso primeiro beijo, o tempo parou diante de nós dois. Lembro que não nos importamos, pois nos sentíamos sozinhos, mas estávamos cercados de pessoas. Acho que se Laura estivesse viva hoje, ela se recordaria de cada detalhe daquela noite melhor do que eu e certamente discordaria da ordem das coisas.

3 comentários:

  1. Belo texto, bela historia Seu miguel.
    como sempre.. tão descritivo que quase da para sentir a brisa fria e o momento em que o tempo para e tudo torna-se silencio.

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  2. Acho bonito você lembrar desses fatos e fico feliz por ter experimentado também esses momentos mesmo não tento vivido.

    Seu Miguel, você era "boca preta" na época?
    Mentira, to brincando.

    Abraço!

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