domingo, 13 de março de 2011

Felicidade Repentina

O frio da manhã cinzenta não me intimidou ao sair de casa. É lindo ver que o inverno se aproxima, que as pessoas ficarão mais bem vestidas, charmorsas e que poderei me sentir melhor, mais disposto. Andei pelo canteiro do jardim de minha casa bem devagar, examinando cada folha jogada ao chão. Algumas formigas vermelhas e grandes insistiam em destruir o meu pequeno roseiral. Malditas! Nunca tive paciência com elas. Constatei que tenho que cuidar melhor das plantas, para evitar que as formigas façam o seu trabalho, da cerca branca de tábuas juntinhas, pois os cupins insistem em devorá-la e do gramado, que insiste em de folhas se decorar.

Segui o rastro lento das formigas; um pouco espesso, em duplo sentido, andando, rápido, iam e voltavam desafiando o gramado cheio de folhas. No trajeto, tocavam-se de frente. O que será que diziam umas às outras? Será que vai chover? Corre que o velho está com o veneno? Adiante o serviço, corra! Trabalhe! Ajude! Para o bem de todas, pois o tempo é curto e temos que aproveitar, antes da chuva, antes do inverno, antes que o ambiente se torne ainda mais áspero, corra e trabalhe!

Fui andando, atravessando o jardim e observando o quanto fui descuidado, estava ele todo arrasado. Não é difícil imaginar o porquê da minha vida estar assim. Durante anos descuidei do meu jardim, deixei de plantar, de colher e, principalmente, de evitar que as malditas formigas o destruissem. Tudo parecia que ia morrendo, se perdendo no descuido da minha falta de atenção e zelo.

Voltei rápido pelo caminho de pedras que liga todo o quintal à casa. Peguei o veneno e voltei um pouco irritado, agachei lentamente, pois os joelhos não são mais tão fortes e o risco de cair se torna mais eminente com o passar dos anos. Examinei o local por onde elas passavam e antes de aplicar o veneno, pensei ter visto um vulto colorido e meio distante, um pouco turvo e desfocado.

Algo diferente e em contraste com toda aquela bagunça. Levantei o olhar meio discreto e incrédulo e vi: Uma flor! Uma simples flor de orquídea em tons azul e lilás nas bordas e um pouco alaranjado ao centro. Uma flor que só havia florido uma vez, desde o dia que eu a comprei, e agora desabrochava em meu jardim descuidado.

Levantei-me devagar olhando-a de frente, fechei os olhos e sorri por alguns instantes. Levantei a cabeça levemente, senti o vento frio e áspero raspar o meu rosto. Senti o sol, um pouco tímido, um pouco fraco, ainda lutando contra as nuvens que insistiam em não deixá-lo iluminar o jardim. Senti uma paz interior, que há muito eu não sentia. Uma calmaria dos pequenos barcos que repousam à beira-mar ao amanhecer. Uma tranquilidade, uma felicidade repentina que me fez começar a reparar todo o tempo perdido.


3 comentários:

  1. Seu Miguel, a felicidade se esconde de nós, mas sempre está a espreita. Procure dar um jeito na bagunça do seu jardim, pois se vendo uma só flor, uma só prova que a vida se renova, imagine um jardim repleto delas? Até um novo hobby pode ser descoberto.

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  2. Eu digo que a felicidade não se esconde. Só se desfarça um pouco(numa flor, por exemplo), pra ter mais graça!!! Apoio demais a ideia de cuidar do jardim. o/

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  3. Muitas vezes nos tornamos formigas, anestesiados pela rotina e as melhores coisas passam despercebidas. Achados como este nos fazem acordar para o fato de como os momentos de felicidade nos estão acessíveis, basta estarmos dispostos e nos lembrarmos do jardim.
    Creio que seja mais ou menos por aí.
    Portanto, cuide do seu jardim, seu Miguel!

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